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Jornalista: Joaquim Sousa
Data: Quarta-feira, 11 Setembro, 2019
Chlorus: Jornal Online da Natação

Voltou a colocar a Madeira no mapa da natação portuguesa em linha com a política de descentralização na organização de eventos da Federação Portuguesa de Natação. Avelino Silva, presidente da Associação de Natação da Madeira, considera, em entrevista ao Chlorus, que o Mundial de Juniores Femininos de polo aquático, que está a decorrer no Funchal, “será mais um momento imortal” para a história dos desportos aquáticos da região.

Sobre o recente livro Ondas de Glória – Momentos Históricos da Natação na Madeira, o líder associativo, de 44 anos, esclareceu os critérios editoriais adotados, sublinhando que o mesmo “não narra os últimos 10 anos ou 20 anos”, mas sim “uma história de 110 anos”. “A natação é superior às pessoas por mais que nós possamos dar à modalidade”, vincou.

Licenciado em Educação Física, o presidente madeirense, a cumprir o seu segundo mandato, mantém o tabu sobre a sua recandidatura ao organismo. “Ainda não pensei sobre o assunto”, admitiu o coordenador das modalidades aquáticas da Direção Regional da Educação.

Que significado tem para a Madeira receber mais um grande evento internacional como o Mundial de Juniores femininos de polo aquático?

Significado de orgulho e de grande responsabilidade. Em 2004, o Governo Regional apostou nesta grande infraestrutura, sabia o que estava a fazer. Num destino turístico, a vertente desportiva também é importante para a região. No fundo é o concretizar desse planeamento.

Que importância pode ter esta competição para o ressurgimento do polo aquático na Madeira? Há sinais de criação de equipas?

A Madeira tem um histórico importante de polo aquático. Já nos anos 20 e 30 do século passado, há relatos e registos de polo aquático na Madeira quando os primeiros estrangeiros chegavam à baía do Funchal e que ali, no mar, faziam a prática do water polo. Mais tarde esse crescimento verificou-se num contexto mais local com algumas equipas inclusivamente a chegarem aos campeonatos nacionais e houve ali uma altura de transição que a natação pura cresceu e desenvolveu-se mais do que o polo aquático. Atualmente a natação pura continua a crescer, diria que até um crescimento bastante significativo. Quando iniciei funções como presidente da Associação de Natação da Madeira, em 2012, tínhamos 400 federados de natação pura, hoje temos cerca de 1600 filiados, o que limita de certa forma a utilização da infraestrutura. Há sempre também uma grande dificuldade na montagem e desmontagem dos campos. Há um grupo de entusiastas que fazem polo aquático todas as semanas. A nossa aposta nesta fase é começar pelo desporto escolar para que se possa ter um crescimento sustentável, mas isso leva tempo e é preciso ter paciência e tentarmos conciliar esta vertente na natação. Temos apostado também muito forte nas águas abertas e naquilo que são estes eventos. Temos à porta outro campeonato europeu de natação adaptada e muitas vezes não conseguimos dar resposta a tantos desafios e a tanta atividade regional.

Podemos considerar que este Campeonato do Mundo é mais um momento imortal para o desporto madeirense?

Penso que sim. Lançámos recentemente um livro [Ondas de Glória – Momentos Históricos da Natação na Madeira] e aproveitámos as comemorações dos 600 anos da descoberta da Madeira e Porto Santo. Começámos em 2015 com o Open de Masters e agora estamos pela primeira vez a organizar um Campeonato do Mundo. Quero acreditar que será mais um momento imortal, um marco importante para a natação madeirense e para esta infraestrutura que acolhe este tipo de eventos.

Tendo em conta precisamente o livro, considera que Paulo Franco é um imortal da natação madeirense?

Todos nós somos imortais para a natação. Eu também sinto que já fiz o suficiente para ser imortal e, no entanto, não consto nos imortais. Não é por isso que não deixámos de fazer o livro. Há tantas outras pessoas que podiam ser consideradas imortais. Estou-me a lembrar por exemplo do professor Rui Cunha que fez tanto pela modalidade e outras pessoas que já fizeram e que marcaram a história da natação madeirense. Só que o livro não narra os últimos 10 anos, nem os últimos 20 anos, o livro narra uma história de 110 anos em que havendo critérios editoriais definiu-se que o livro teria de ter 500 páginas. E com tantos momentos bonitos para passar para livro, era impossível pôr tudo aquilo que a natação representa para a região autónoma da Madeira. Foi preciso fazer escolhas. Até determinada altura, o livro já iá com 750 páginas e, por questões editoriais, tivemos que fazer escolhas. Temos em mente fazer uma segunda edição e há um conjunto de gerações que podem aparecer numa segunda edição como outros imortais. Estou-me a lembrar também do Luís Pinto que fez com que a natação madeirense tivesse num patamar de excelência. Respeitamos o trabalho de toda a gente. Tive o cuidado de explicar ao Paulo Franco o porquê de nesta fase não constar nos imortais. A própria autora teve também essa atenção. Recordo que o Paulo Franco faz parte do livro. Fez o prefácio juntamente com o presidente da Federação. Há uma foto do Paulo Franco no livro. O livro tem poucas fotos porque quisemos que o livro não fosse uma foto reportagem, mas sim uma narrativa da história. Temos a consciência do papel que o Paulo representa para a natação madeirense. A história vai continuar. Quem vier e tiver a coragem de lançar uma segunda edição que tenha esse cuidado e que defina os critérios editoriais que entender.

Pegando nessas últimas palavras, poder-se-á depreender que ainda não decidiu se vai recandidatar-se à presidência da Associação de Natação da Madeira em 2020?

Estou a terminar o segundo mandato, é prematuro falar nisso agora. Ainda não pensei sobre o assunto. Estou mais focado agora nos Mundiais de polo aquático. Recentemente fizemos uma travessia entre o Porto Santo e a Madeira que acabou por ser mais um momento imortal. Irá ficar na história da primeira mulher [Mayra Santos] a fazer essa travessia de uma forma exemplar. Fico feliz por termos o apoio da Federação deste presidente que tem uma visão de levar a natação a todos os cantos de Portugal. A quantidade de coisas que temos feito quase que não me têm dado tempo para parar e para pensar. Há momento para tudo, há o momento para o planeamento, para a concretização dos projetos. Há-de haver o momento de reflexão e nessa altura decidirei o que haverei de fazer.

Mas tem, já num possível terceiro mandato, a organização do Mundial de natação adaptada em 2021 aqui na Madeira…

Eu não sou, nem quero ser imortal da natação. A natação é superior às pessoas por mais que nós possamos dar à modalidade. A Madeira já tem um histórico suficiente para que ninguém se ache no direito de estar acima da natação. Este tipo de eventos têm de ser planeados com muita antecedência e acho que não podemos ficar reféns se o presidente decidir ou não continuar. A Madeira merece estar nesta senda. Das coisas que mais me poderia deixar ficar triste era, no dia em que decidisse sair, deixar-se de fazer competições na Madeira. É uma infraestrutura que já deu provas de receber grandes eventos. As equipas que têm vindo cá têm ficado satisfeitas. No dia em que chegar o momento em que o presidente da Federação sair e o presidente da Associação da Madeira sair, quem vier que venha dar continuidade a este trabalho. Portugal merece e a região autónoma da Madeira merece receber eventos desta natureza.

Caso não se recandidate à Associação da Madeira, equaciona a possibilidade de integrar uma possível lista de recandidatura do atual presidente da FPN em 2020?

Se não pensei numa possível recandidatura à Associação da Madeira, então para a Federação é que não me passou mesmo pela cabeça. Tudo tem o seu tempo. Neste momento estou satisfeito com o trabalho que temos feito em conjunto com a Federação Portuguesa de Natação.